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A importância da Consulta Médica 

A consulta clínica é o procedimento padrão inicial para qualquer ato médico. Procurado pelo paciente, o médico inicia a avaliação ouvindo a história de suas queixas e tudo o que for relacionado a elas, por meio de relato espontâneo e dirigido por interrogatório sistemático - esta etapa da consulta é denominada anamnese. Após concluída a anamnese, parte para o exame físico, constituído por inspeção, palpação e ausculta - ou seja, um detalhado exame visual, tátil, e intermediado por aparelhos específicos, como o estetoscópio, lanterna e martelo neurológico, por exemplo. Segue-se a formulação de hipóteses diagnósticas e o estabelecimento de um diagnóstico sindrômico (conjunto de sinais e sintomas)  e/ou etiológico (a causa-base da doença). Isso  pode demandar a solicitação de exames complementares. Finalmente, prescreve-se o tratamento, que pode ser baseado em medicamentos, cirurgias, dieta, terapia física, psíquica, mudança de hábitos de vida ou uma combinação destes, seja em regime de internamento, acompanhamento no consultório, ou mesmo domiciliar. Tudo isso pode ser um processo simples, ou trabalhoso e desgastante, e sempre registrado em pormenores no prontuário médico.

Muitas vezes não é possível estabelecer-se o diagnóstico final na primeira consulta. Geralmente isso acontece porque são necessários exames complementares a serem realizados posteriormente. Noutras vezes, a doença ainda está em evolução, e só vai se manifester plenamente depois. Nesses casos, é mister uma segunda visita, para avaliação das pendências que ficaram da consulta inicial (ou para acompanhar a evolução do caso em resposta ao tratamento prescrito). Dispende-se um tempo menor para isto, pois não houve necessidade de novos anamnese, exame físico e formulações diagnósticas. É o chamado 'retorno', ou 'revisão'. Não é nova consulta. De fato, é uma continuação da primeira, e não há nova cobrança de honorários médicos. No entanto, o paciente pode desenvolver novos sinais e sintomas após a primeira avaliação, que requerem outra vez uma anamnese, exame físico e reformulação diagnóstica/terapêutica.  Caracteriza-se dessa forma uma nova consulta médica; portanto, é cobrada como tal.

Não se pode diminuir a importância da consulta médica, uma vez que é a base para todas as condutas tomadas a seguir. Desaconselháveis são, então, consultas à distância, "consultinhas-de-corredor", opiniões informais, e muito menos emissão de receitas, atestados ou solicitações de exames e procedimentos sem realizar-se a consulta médica completa. Imagine-se fazer coisa semelhante com um advogado ou engenheiro, para execução de ações importantes em processos jurídicos, ou na construção de uma casa... Qualquer profissional sério jamais concordaria em emprestar seu nome a tal prática. Quanto mais se tratando de saúde, pois estão em jogo ações de impacto sobre a vida humana.

Valorize o seu médico. Valorize a sua saúde. Contribua para as condições corretas de atendimento. O principal beneficiado será você mesmo!

Saúde em tudo, a todos, sempre.

Dr. Mauricio Souza

Por que é difícil achar horário de consulta?

Por Maurício Vilela  -  29 de dezembro de 2015 (adaptado de:  http://olharatual.com.br/por-que-e-dificil-achar-horario-de-consulta/)

Esse texto também poderia se chamar “Como ler uma noticia sobre médicos na imprensa brasileira”. Há muito tempo que a imprensa tem um comportamento desonesto quando se refere a médicos. Se uma categoria paralisa suas atividades exigindo um reajuste de 20%, é tratada com extrema simpatia. Se médicos fazem um dia de paralização por estar há três meses sem receber, são tratados como mercenários e insensíveis ao sofrimento dos pacientes.

Por isso, não foi surpresa ler a notícia da Folha de S. Paulo (link no final do texto) com o título “Nos consultórios, 1/4 dos médicos do país não aceita planos de saúde”. Inicialmente, podemos analisar o próprio título, apresentado como algo “absurdo”, quando não é. Realmente é de se estranhar que 25% dos médicos não atendam planos de saúde? Por que? De onde a jornalista tirou que atender plano de saúde é alguma obrigação ou regra?

Mas a reportagem, bastante extensa, apresenta uma série de estatísticas provenientes do relatório “Demografia Médica”, feito pela Faculdade de Medicina da USP com apoio dos conselhos federal e paulista de medicina, assim como opiniões tendenciosas.

Logo no começo, a matéria cita que, “na última década, os especialistas passaram a se concentrar em consultórios para atender clientes de planos de saúde. Mas, com a defasagem no valor das consultas, muitos médicos deixaram os convênios e optaram pelo atendimento puramente particular.”

Se isso fosse verdade, já seria uma coisa extremamente normal. Afinal, qualquer profissão pode optar por mudar sua clientela conforme suas necessidades.

Mas, por não buscar opiniões de pessoas que não se limitam a transferir a culpa para os médicos, a jornalista não cita o principal motivo pelo qual o número de médicos com consultórios aumentou.

Há cerca de 15 anos, se iniciou no meio médico, um costume que praticamente destruiu a profissão médica. Antes disso, era comum o médico encontrar empregos regulares, onde trabalhasse diariamente, recebesse um salário, com férias, 13o, FGTS, etc.

Um belo dia, alguém descobriu que poderia contratar não o médico, mas a pessoa jurídica desse médico. Assim, embora o médico continuasse a ter as mesmas obrigações de horário, ele não tinha mais nenhum direito trabalhista. Se tirasse férias, não receberia. Se faltasse por doença também. Médicos foram constrangidos a abrirem uma pessoa jurídica, o que não era vantajoso para muitos, inclusive por haver a exigência da firma ter dois ou mais sócios, levando a brigas e dissoluções de sociedade.

Com o tempo, as empresas descobriram uma forma ainda mais imoral de exploração do trabalho médico: as falsas cooperativas. A empresa não mais contratava o médico ou a pessoa jurídica dele, mas uma cooperativa, que prestava os serviços. Igualmente os médicos não tinham direitos trabalhistas e ainda havia alguém agindo como intermediário, ficando com parte dos valores pagos pela empresa.

Com isso, os médicos viram que não havia mais nenhuma vantagem em trabalhar em empresas, já que continuavam como profissionais liberais. Melhor investir num consultório, onde também não tinham direitos, mas teriam certas liberdades de horário, por exemplo.

Paralelamente, as empresas de saúde de grupo, popularmente conhecidas como Convênios, também descobriram que, se não credenciassem a pessoa física do médico, mas sua pessoa jurídica, uma série de impostos que a empresa teria que pagar, passavam para a pessoa jurídica do médico.

Com o tempo, praticamente nenhum convênio aceitava mais um médico que não tivesse pessoa jurídica. De certa forma isso facilitou que os médicos, que haviam abandonado os falsos empregos, buscassem credenciamento dos convênios.

Mas tem o outro lado. Os convênios, conscientes de que se tornaram uma fonte importante de pacientes e renda dos médicos, começaram a exigir de alvarás da prefeitura, da Vigilância Sanitária, até certificados de pós-graduação, o que limitou o credenciamento a alguns profissionais. Muitos médicos preferem não atender convênios do que se expor aos achaques dos ficais da Vigilância Sanitária. Para quem não sabe, nem textura de parede escapa de multas da Vigilância…

Tudo isso é conhecido de todos os médicos, pelo menos por aqueles que realmente atendem pacientes, o que não deve ser o caso do coordenador da pesquisa citada, Mário Scheffer, professor do departamento de Medicina Preventiva da USP, departamento esse que já era totalmente tomado por médicos de esquerda, ainda na época do regime militar. Scheffer já deu várias entrevistas lamentando a tendência dos médicos a voltarem a ser profissionais liberais. Aparentemente, num mundo ideal para ele, todos os médicos são funcionários públicos.

Agora, falemos de uma coisa que todo médico conhece, mas que ninguém fala nas reportagens. O índice de falta de pacientes de convênios fica entre 30 a 50%. Embora os pacientes particulares também faltem, esse índice é bem menor. Conheço diversos médicos que já tentaram alternativas para isso. Alguns marcam dois pacientes por horário, já que só um deles deverá vir, mas o problema ocorre quando os dois vêm, sobrecarregando o médico. Já ouviu críticas de médicos que atendem em dez minutos? Mas já ouviu também reclamações de demora excessiva na sala de espera? Ou seja, o médico não tem saída. Até porque o paciente que chega cinco minutos atrasado não pode ser atendido no tempo que já passou, criando uma bola de neve de atrasos.

Finalmente, chegamos à questão do pagamento. Em quase todas as matérias, os jornalistas optam por omitir o valor pago pelas empresas de convênio. Isso é muito suspeito porque não só é extremamente fácil obter essa informação, como também é um costume do jornalismo informar valores e custos sempre que o assunto é esse.

Nessa reportagem, a jornalista comete o mesmo erro de todos os outros, ao dizer que o valor MÉDIO da consulta é de R$ 60,00. Não é! Esse é o valor MÁXIMO, pago somente por poucos convênios. A imensa maioria paga R$ 40,00. Já ouvi muitas pessoas dizendo que, para a qualidade de atendimento prestado, esse valor está muito bom. Obviamente, são as mesmas pessoas que acham normal pagar R$ 200,00 num corte de cabelo.

Mas poucas pessoas compreendem que esse valor é corroído por diversos fatores. Primeiro a glosa. Quem não sabe o que isso significa, é um valor que o convênio desconta do total cobrado pelo médico, devido a erros de preenchimento de guia e até pelo médico ter atendido um associado cujo plano não daria direito a atendimento em consultório. Mas o pior é que, há anos as empresas de medicina de grupo, utilizam a glosa como forma de solução de problemas financeiros. Está com pouco caixa? Invente uma desculpa e glose TODOS os atendimentos do mês de um médico ou clínica. Como o recurso da glosa, demora um mês, o pagamento só sairá no mês seguinte.

Todo o pagamento de convênios é oficial, então tem desconto de imposto de renda. Devido ao volume de atendimento, o valor total costuma cair na maior alíquota. Então, só para citar o imposto, ignorando todas as outras despeças, o valor de cada consulta cai para R$ 26,00. Isso mesmo! Sua saúde está nas mãos de alguém que está ganhando menos que o seu encanador para trocar o courinho da torneira.

Vamos parar por hoje. Amanhã, prosseguirei com a análise da reportagem.

Ontem iniciamos uma análise da notícia da Folha de S. Paulo com o título “Nos consultórios, 1/4 dos médicos do país não aceita planos de saúde”, cujo link está no final desse texto. Hoje iremos dar seguimento a essa análise.

Após afirmar, já vimos que erroneamente, que o “valor médio” da consulta paga pelos convênios era de 60 reais, a jornalista informa que as entidades médicas defendem um valor de R$ 130,00 e que o preço de uma consulta particular em São Paulo, varia entre R$ 200,00 e R$ 1.500,00.

Para o leitor desavisado pode achar absurdo esse reajuste de mais de 100% defendido pelas entidades, se não souber que, após a implantação do Real, os médicos ficaram mais de 10 anos com o valor da consulta congelado em R$ 25,00. Apesar da inflação baixa, ela não era inexistente e o tempo corroeu o valor da consulta. Os reajustes só ocorreram, e com muita dificuldade, após paralizações do atendimento de convênios por um dia. Esse valor acabou chegando a R$ 40,00 e, recentemente, para alguns convênios, foi reajustado para R$ 60,00.

Curiosamente, nesse mesmo período, os valores de mensalidade dos convênios foram reajustados frequentemente, sem que a ANS (Agenda que regula a saúde suplementar) sequer vinculasse esse reajuste a um aumento do valor dos serviços pagos. Pior é saber que muitos usuários, ao receber o aviso de um aumento, culpavam os “médicos mercenários” pelo aumento.

Embora eu, particularmente, sempre tenha sido contra a prática citada na reportagem, de dar preferência às consultas particulares, não posso criticar meus colegas que o fazem porque não estou na pele deles, não sei as contas que têm que pagar. Mas realmente é tão criticável assim alguém preferir uma única consulta que pague o valor de 10 consultas de convênio? Você, honestamente, afirmaria que trocaria um cliente que pague R$ 600,00 por outro que pagará R$ 60,00 cerca de 45 dias depois?

Voltando à matéria, a jornalista cita uma advogada que afirma, como se isso fosse algo absurdo, que “muitos médicos só aceitam usuários de planos quando estão no início da carreira ou até conseguir uma boa carteira de clientes. Depois, passam a atender só no particular”.

O que tem de errado nisso? A própria matéria já citou valores e vemos que uma consulta particular pode custar de 4 a 20 vezes o valor pago pelo convênio. Só um idiota preferiria atender centenas de pacientes por semana, rapidamente e sem dar atenção, para conseguir tirar uma renda aceitável ao invés de atender um paciente por hora, dando uma atenção adequada e ainda obter uma renda até maior.

Por acaso estão sugerindo que William Bonner seja obrigado a fazer reportagem de campo no alto de alguma comunidade perigosa? Ou que um engenheiro, depois de 20 anos de formado, tenha que aceitar fazer projeto de uma edícula? E essa mesma advogada? Será que cobra os mesmos valores de honorários que cobrava quando começou sua carreira?

Curiosamente, a única profissão que parece não ter direito a uma carreira ascendente é a Medicina. Após 20 anos de prática médica, o profissional seria obrigado a trabalhar por valor baixíssimo, mesmo que pacientes particulares estivessem batendo à sua porta.

Uma outra advogada, esquecendo que vivemos ainda numa democracia, comenta indignada que “os médicos cobram o que querem pelas consultas. É um abuso. E o consumidor não tem coragem de negociar, se sente refém da situação”.

Desse comentário concluímos duas coisas: que os médicos estão saindo às ruas, de armas em punho, e obrigando seus pacientes a entrarem nos seus consultórios. Por isso os pacientes, que poderiam procurar o serviço público ou pagarem um convênio, se sentem “reféns” dos médicos particulares. Outra coisa é que essa advogada deve achar correto entrar num bom restaurante e pagar 200 reais por um prato que teve um custo de 20 reais; mas acha que os médicos brasileiros devem ter seus valores de consulta tabelados, numa falta de liberdade econômica que acabaria espantando os médicos dos consultórios para serviços auxiliares como exames.

A verdade é que os pacientes negociam sim com seus médicos. Pedindo descontos, retornos gratuitos fora do prazo, etc. Qualquer médico que tivesse sido consultado teria dito isso.

O coordenador da pesquisa, Scheffer, afirma que “foi retomada uma coisa que a gente achou que estava em declínio: o médico ‘liberalzão’, que atende quem quer, quando quer e cobra quanto quer”. Nessa afirmação fica claro o quanto incomoda a essas pessoas que um médico não seja dependente de emprego público ou de pagamentos aviltantes dos convênios.

O parágrafo final chega a ser cômico, onde se lê que o “pior dos mundos” é aquele onde as pessoas cada vez mais têm que colocar dinheiro do próprio bolso para a saúde.

A ideia fantasiosa de que as pessoas não deveriam pagar por sua saúde permitiu ao Estado cobrar altíssimos impostos com o pretexto de “saúde universal”. Como consequência, o Estado dá um péssimo atendimento de saúde para uma população que, se não pagasse tantos impostos, talvez poderia pagar suas consultas e exames.

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2015/12/1723490-nos-consultorios-14-dos-medicos-do-pais-nao-aceita-planos-de-saude.shtml

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